Nelson Mandela, um dos grandes líderes contemporâneos, usa a seguinte analogia para descrever a diferença entre Gestão e Liderança: “Líder é como o pastor de ovelhas, que seguindo não à frente, mas atrás e com a ajuda do cão, conduz o rebanho fazendo-o acreditar que é ele que decide o caminho a seguir”.
Como a atividade de pastor de ovelhas já não é tão comum em nossos dias e incomum em nossa região, para que possamos entender melhor essa definição, permita-me comentar sobre algumas características de um verdadeiro pastor de ovelhas.
A relação entre as ovelhas e seu pastor é algo puramente pessoal, baseada mais em confiança do que em imposição; uma relação que busca cuidado em vez de realização pessoal. Como a ovelha tem boa visão apenas para a curta distância, não é raro que ela se equivoque e tome caminhos errados. O pastor encontra-a e reconduze-a ao rebanho. Quando inimigos naturais se aproximam, o pastor utiliza sua vara para defendê-las. O cajado é usado pelo pastor para indicar a direção, para puxar a ovelha para perto de si ou para resgatá-la de algum abismo ou buraco.
Ao preparar um pasto, o pastor tem de ser muito cuidadoso, pois podem haver perigos para os quais a ovelha está despreparada. O pastor vai à frente do rebanho e remove esses perigos antes que as ovelhas cheguem. No antigo Oriente Médio era costume o pastor dar nome a cada ovelha, tal o senso de relacionamento e intimidade entre eles, e quando ele as chamava pelo nome elas prontamente o seguiam. Algumas vezes, pelo conforto do aprisco, pelo medo dos perigos lá fora, ou simplesmente pela preguiça, as ovelhas não queriam sair. Então, o pastor tinha que entrar, se posicionar atrás das ovelhas e gentilmente conduzi-las para fora. Quando todas saíam, ele ia adiante delas conduzindo-as para os diversos destinos do dia.
Líder e pastor de ovelhas têm muito em comum. Assim como um pastor, o líder estabelece relacionamentos com seus liderados, com base em confiança. O líder defende e protege seus liderados. Quando alguém se equivoca, muitas vezes por não ter a visão do todo, o líder a reconduz para o caminho certo e a reintegra à equipe quando necessário. O líder é quem desbrava e prepara o caminho por onde seus liderados irão passar, mas também é quem empurra a equipe quando existem sinais de desmotivação ou insegurança.
Perceba também que na definição de Nelson Mandela existe um cão, o grande parceiro do pastor. Aos leitores mais sensíveis, peço desculpas pela analogia, mas aqui temos a figura do Gestor. E é justamente a combinação do trabalho destes dois personagens que traz o equilíbrio necessário para que sejam cumpridas as expectativas do rebanho e de seu dono. Nas mãos do cão, por mais qualificado que possa ser, o rebanho não chegaria muito longe porque o cão não sabe muito bem para onde estão indo; ele não tem uma clara visão de futuro. Tampouco o pastor conseguiria bons resultados sem o cão, que com habilidades necessárias e peculiares, é imprescindível para que a visão seja implementada e operacionalizada.
Assim como ocupamos papéis diferentes em nosso cotidiano, como pai, mãe, filho, amigo, marido, esposa, estudante, e tantos outros, Líder e Gestor também são papéis exercidos pela mesma pessoa. Em minhas palestras, treinamentos e coaching com executivos, percebo que a falta de compreensão sobre a importância destes dois papéis ainda é um grande problema no mundo corporativo, tanto que uma das novidades nos Estados Unidos é a figura do “Chief of Staff”, que poderíamos chamar de “Diretor de Pessoas” ou “Diretor de Equipe”; que tem como principal atribuição o cuidado e o desenvolvimento das pessoas, permitindo assim que os executivos se dediquem exclusivamente aos negócios da organização. A justificativa é que estes executivos já não têm tempo para lidar com as estratégias de negócios e com as pessoas, portanto, o “Diretor de Equipe” pode cuidar das pessoas enquanto o executivo cuida dos negócios.
Aparentemente esta é uma iniciativa interessante, mas que revela e acentua ainda mais um dos maiores problemas das organizações contemporâneas, sejam empresas, escolas, igrejas ou instituições públicas: resultados valem mais que pessoas. A figura do “Diretor de Equipe” aumenta ainda mais a distância e o isolamento entre o líder e seus liderados.
Observe que, na prática, as pessoas ocupam posições de gestão e não de liderança. Não vemos cargos de Líder de Vendas ou Líder de Finanças. O que normalmente vemos é Supervisor de Vendas, Gerente de Finanças, Diretor de Tecnologia e assim por diante. Isto pode parecer um detalhe sem importância, mas transmite a mensagem de que a gestão, o cumprimento de resultados e metas, o cuidado com os processos, o aumento de produtividade, a redução de custos, a manutenção da operação e várias outras responsabilidades são mais importantes do que liderar, desenvolver e cuidar das pessoas.
Gestores criam regras, exercem controle e autoridade formal, evitam conflitos, minimizam riscos, enfim, agem mais com a cabeça do que com o coração, buscando atender os objetivos da operação e do negócio. Quando priorizamos, ouvimos, cuidamos e conversamos com as pessoas, quando percebemos e aproveitamos as características individuais, promovendo o desenvolvimento do grupo transformando-o em equipe de trabalho, quando projetamos uma visão de futuro compartilhada, quando damos feedback, quando influenciamos as pessoas a dar o melhor de si, quando nos preocupamos e trabalhamos para formar novos líderes, estamos atuando como Líderes.
Gestão e Liderança não são concorrentes, mas complementares. O que realmente importa é que, no papel de gestor, busque os interesses da organização e, que no papel de líder, busque o interesse das pessoas, mantendo o equilíbrio necessário entre os dois papéis.
Gestão é o que fazemos, liderança é o que somos. Gestão trata de coisas, liderança trata de pessoas.
O sucesso de uma organização é alcançado quando todos os seus colaboradores assumem o seu papel individual de liderança. Todos se tornam responsáveis pelos resultados e o sucesso é compartilhado por todos. Todos deixam sua marca numa equipe e numa organização; a verdadeira questão é: Que tipo de marca você quer deixar?
http://www.blogdofabossi.com.br/2011/06/gestao-x-lideranca-lideranca/
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